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presente artigo tem como objetivo examinar a obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, baseado no pressuposto ecológico que visa a estudar as interrelações entre os diferentes seres vivos que ocupam mesmo ambiente e como estes interagem com o meio ambiente, possibilitando, consequentemente, a reformulação de conceitos sobre as relações entre homem, natureza e animal. Partindo dessas considerações preliminares, procura-se mostrar também a importância dos fatores espaço e tempo na análise das percepções ecológicas no texto narrativo graciliano. Evidencia-se o fato de que o espaço influencia, em grande medida, a forma de ser e de agir dos seres humanos através da sua consciência quanto à pertença a um lugar específico. O tempo, por sua vez, constata-se através do ciclo vital da natureza. Ambas as categorias, porém, se constituem numa fusão entre si, pois apresentam-se a marca do tempo no espaço e o tempo que remete ao lugar concreto de sua realização tal como se verifica no conceito bakhtiniano. E ainda, utiliza-se um dispositivo textual como uma estratégia narrativa, rompendo os modelos tradicionais de romance. Em torno desse eixo do desenvolvimento narrativo, analisam-se as diferentes imagens do sertão que marcam o pensamento social brasileiro e acabam servindo como foco central na obra graciliana, na qual o sertão não é um local neutro com relação aos acontecimentos, permitindo enxergar no espaço a marca do tempo que tem uma forma e dá ao espaço um sentido, e, por assim dizer, possibilitando dar uma voz aos personagens quase incapazes de falar e até aos seres não-humanos, com uma linguagem virtual através da retórica do silêncio que eliminaria a relação hierárquica entre homens e com os demais seres da natureza.